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Crise é séria e pode levar à ruptura, diz Dilma

A presidente Dilma discursa na ONU: “O mundo se defronta com uma crise econômica, de governança e de coordenação política”.

As lideranças dos países desenvolvidos não conseguem achar uma saída para a atual crise econômica “por falta de recursos políticos e, algumas vezes, clareza de ideias”, disse ontem a presidente Dilma Rousseff, no discurso de abertura da 66ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas. Dilma foi a primeira mulher a abrir a sessão anual de trabalhos da ONU.

No próprio discurso, a presidente resumiu a visão do Brasil sobre a atual crise externa. “O mundo se defronta com uma crise que é ao mesmo tempo econômica, de governança e de coordenação política.” E o Brasil, destacou, ainda está bem economicamente, mas até para manter essa situação quer e pode ajudar na redefinição que se faz necessária nas relações internacionais. “Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países”, disse a presidente brasileira, que falou por cerca de 20 minutos.

“Pela primeira vez, na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o debate geral. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna”, foram as primeiras palavras da presidente, que defendeu maior coordenação entre ONU, G-20, FMI e Banco Mundial.

“Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise”, afirmou. “É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e, algumas vezes, de clareza de ideias”, afirmou. Se não for encontrada uma saída para a crise, disse, ela pode levar a uma “ruptura política e social.”

No discurso, Dilma reforçou teses que embasam a gestão da política econômica no Brasil: “Uma parte do mundo, disse, não encontrou ainda o equilíbrio entre ajustes fiscais apropriados e estímulos fiscais corretos e precisos para a demanda e o crescimento. Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise – a do desemprego – se amplia. Já temos 205 milhões de desempregados no mundo.”

A presidente aproveitou a oportunidade para fazer recomendações aos líderes mundiais. Segundo ela, “políticas fiscais e monetárias devem ser objeto de avaliação mútua, de forma a impedir efeitos indesejáveis sobre os outros países, evitando reações defensivas”. A solução do problema da dívida, por sua vez, deve ser combinada com o crescimento econômico, avalia a presidente. “Está claro que a prioridade da economia mundial, neste momento, deve ser solucionar o problema dos países em crise de dívida soberana e reverter o presente quadro recessivo. Os países mais desenvolvidos precisam praticar políticas coordenadas de estímulo às economias extremamente debilitadas pela crise”, disse Dilma. E acrescentou: “Os países emergentes podem ajudar.”

A guerra cambial também ganhou destaque no discurso de Dilma na ONU. “É preciso impor controles à guerra cambial, com a adoção de regimes de câmbio flutuante”, para “impedir a manipulação do câmbio tanto por políticas monetárias excessivamente expansionistas como pelo artifício do câmbio fixo”. Para a presidente, “o protecionismo e todas as formas de manipulação comercial devem ser combatidos, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta”.

A reforma do Conselho de Segurança da ONU e as atuais manifestações populares nos países árabes também foram temas presentes no discurso. “A cada ano que passa, mais urgente se faz uma solução para a falta de representatividade do Conselho de Segurança”, disse Dilma. E deixou claro que o “Brasil está pronto a assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho”.

Em relação ao que chamou de “Primavera Árabe”, Dilma afirmou que as nações precisam encontrar ” uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reforma, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo”.

“Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis”, disse. “Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso à força deve ser sempre a última alternativa”, afirmou, sem citar países envolvidos nos conflitos.

Por outro lado, a posição do país a favor da criação do Estado Palestino foi reafirmada. “É chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título”, disse. “Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional.”

Na parte final do discurso, Dilma falou dos avanços políticos e econômicos vividos pelo Brasil nos últimos anos, “sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas”. E ressaltou o papel da mulher nesse processo. “No meu país, a mulher tem sido fundamental na superação das desigualdades sociais. Nossos programas de distribuição de renda têm nas mães a figura central.”

No encerramento, fez questão de lembrar seu passado como prisioneira política durante o período da ditadura militar. “Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da Justiça, dos direitos humanos e da liberdade.”

Fonte: Valor Econômico