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PRF MORTO EM SANTA CATARINA APÓS PERSEGUIR LADRÕES DE CARRO

A vida, é o preço pago no cumprimento de dever

A Polícia Civil, por meio da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) divulga o retrato falado dos assaltantes envolvidos no homicídio do Policial Rodoviário Federal (PRF) Leonardo Valgas Santos, de 36 anos, morto na manhã desta sexta-feira (09), em Florianópolis. O crime aconteceu, no bairro Coqueiros, enquanto Santos perseguia assaltantes.

O grupo que fugia em um Pálio deu a entender que se renderia. O policial parou a moto e foi surpreendido pelo motorista do carro, que deu marcha à ré. Ao tentar escapar Santos se desequilibrou e caiu. Antes de conseguir levantar foi alvo de aproximadamente sete tiros. Três atingiram o colete à prova de balas que ele vestia, três paredes de prédios no local e um o seu corpo, perfurando pulmões, rim e fígado.

Os assaltantes abandonaram o Pálio, renderam a motorista de um Renault Scenic e fugiram em direção ao bairro Abraão. Em seguida, correram em direção a um matagal e até esta tarde não tinham sido encontrados pelas equipes de buscas compostas por policiais federais, rodoviários federais, civis e militares.

A Polícia Civil divulgou agora à tarde a descrição dos assaltantes, junto de retrato falado. Um deles tem pele branca, cabelos pretos e altura aproximada de 1,60 a 1,65 metros. Este homem vestia camisa social clara com listras. O outro tem cabelos grisalhos ou louros claro, pele branca e altura de aproximadamente 1,75 metros. Ele usava camisa social branca com riscos azuis, calça jeans e calçado preto.

O policial morto trabalhou no posto da PRF em Lages, segundo o colega Carlos Barreto. Ele lembra que Santos trabalhou em Vacaria (RS) antes da transferência para Lages e depois para a capital.

Em nota, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) lamentou que exatamente nesta sexta-feira, Santos completava seis anos de serviços no quadro da instituição.

A nota ainda observa que Santos e outro PRF faziam policiamento sobre motocicletas. Eles foram avisados, por um cidadão, de que o Pálio fez retono ao avistá-los. Por isso, iniciaram a perseguição.

Manifestação da família do PRF assassinado

Carta aberta à Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina

Choque e incredulidade tomaram nossa família na manhã do dia 09 de dezembro de 2011. Nosso amado Leonardo, com apenas 36 anos, foi brutalmente levado de nosso convívio. A morte é parte da vida, mas o modo que tudo ocorreu desafia a compreensão de todos nós. É vã qualquer tentativa de encontrar lógica nestes acontecimentos e acreditamos que talvez noutra existência possamos ter resposta. Leonardo era um filho dedicado e amoroso – o melhor de todos nós – irmão maravilhoso, marido cúmplice e companheiro, amigo da melhor cepa. Era um homem bom na singeleza e profundidade desta expressão.

Desde criança demonstrava ser um militar nato. Foi lobinho, escoteiro e quando adulto passou onze anos no exército brasileiro; depois, prestou concurso e ingressou na Polícia Rodoviária Federal onde esteve por exatos seis anos. Era extremamente qualificado e hábil no desempenho das suas funções, respeitado e admirado por seus colegas de profissão. Agora mesmo tinha sido aprovado para ser instrutor de motociclistas para a Copa de 2014. Amigo fiel e sempre prestativo, assumiu a vida na PRF com total dedicação, entusiasmo e integridade. Não interessava-lhe a mesmice dos gabinetes mas a vida sobre rodas. Morreu fazendo o que gostava, lutando o bom combate como fazem os guerreiros.

Tão logo a realidade abateu-se sobre nós, com o apoio dos amigos fizemos os encaminhamentos de praxe, dando tempo para que a doação de seus olhos abram luz a quem não enxerga. Quando optamos pela cremação queríamos guardá-lo em nosso coração e não num lugar físico determinado. Queríamos tudo rápido – no mesmo dia – para evitar o prolongamento de nosso sofrimento. Recebemos inúmeros pedidos da PRF para adiar a cerimônia para o dia seguinte para que seus colegas pudessem homenageá-lo. Relutamos em aceitar mas concordamos. A decisão mostrou-se acertada e surpreendente. As homenagens feitas a Leonardo demostraram o quão querido e admirado por sua corporação ele era. Para que o cortejo seguisse seu caminho até Balneário Camboriú, seus companheiros de PRF pararam a beira-mar norte, fechou-se a ponte e a BR 101 em atitude que acreditamos sem precedentes e digna de chefe de estado. Nada mais justo para quem deu a vida em prol da sua corporação e dos seus semelhantes. Parou-se o trânsito quando para nós tinha parado o universo. A presença maciça de policiais que em sua maioria estavam em folga demonstrou a consideração que Leonardo tinha da sua corporação. Os discursos, as sirenes, os rasantes de helicóptero, os infindáveis aplausos mostraram a solidariedade e a comoção que a morte de um policial em combate causou na sociedade catarinense. Esta percepção também chegou aos meios de comunicação que deram ampla divulgação ao caso. A violência sempre nos pareceu coisa de televisão e assusta saber que todos nós estamos sujeitos a ela.

Quanto aos criminosos que covardemente o privaram da vida, não nutrimos ódio. A ausência de Leonardo oblitera quaisquer outros pensamentos. O ódio é um veneno que só toma quem o oferece. Contudo, é justo e nos conforta saber que estes bandidos foram presos no mesmo dia do seu crime com extrema competência de todas as polícias do Estado de Santa Catarina e dos poderes instituídos. Que saibam os delinquentes que não se tira a vida de um dos anjos das estradas impunemente e sem que paguem duramente por seus crimes. Que este exemplo ajude a evitar que outros policiais venham a sofrer esta barbárie.

As orações dos colegas da PRF, dos amigos e familiares tem nos consolado e auxiliado a passar por este momento tão duro e difícil. Obrigado por tudo. Temos a crença que as elevadas homenagens feitas pela PRF ao Leonardo são apenas o prenúncio de homenagens ainda maiores que está a receber no outro plano da existência.

Atenciosamente, subscreve esta missiva a família de Leonardo Leon Valgas dos Santos.

Fonte: Correio Lageano